terça-feira, 31 de outubro de 2023

Como disse uma citação que li outro dia

"Querido coração, existem outras pessoas no mundo"

segunda-feira, 9 de outubro de 2023

quarta-feira, 4 de outubro de 2023

Paulina

Saravá, mestra Paulina!
Sa-ra-vá! 
Quando te vejo na gira meu coração alegra.

Saravá, mestra Paulina!
Sa-ra-vá!
Quando te vejo na gira meu coração alegra.

Paulina pediu água para lavar meus caminhos
Paulina pediu vela para iluminar
Paulina pediu uma sidra e vai brindar
Paulina segura firme minha mão
Ela diz que sempre que precisar posso chamar!

Saravá, mestra Paulina!
Sa-ra-vá! 

Saravá, mestra Paulina!
Sa-ra-vá!

Quando vejo o cavalo de Paulina na gira já sei que um abraço dela vou ganhar
Ela me acolhe com sorriso e me chama de “minha moça”
Ela me dá força para caminhar, seu abraço é forte 
Já saio querendo voltar, ela diz que sempre posso chamar.

Saravá, mestra Paulina!
Sa-ra-vá! 

Saravá, mestra Paulina!
Sa-ra-vá!

Ela diz que Aruanda é distante mas os recados chegam rápidos
Ela diz que a procure em qualquer lugar
Eu vivo chamando ela na porteira
Ela enxuga minhas lágrimas, ela me faz levantar.


Saravá, mestra Paulina!
Sa-ra-vá! 

Saravá, mestra Paulina!
Sa-ra-vá!

terça-feira, 3 de outubro de 2023

Conta

Posso não conhecer todos os sambas
Posso não saber sambar
Pouco tenho em casa, apenas um som pequeno para ligar
Mas se meu bem gosta de roda de samba é nesse som que vamos escutar.

Se busca um porto seguro, isso será em outro lugar
Não quero ser porto, porto é solitário e me faz chorar
Sempre quis ter um porto, mas isso ninguém pode me dá
Meu porto está no meu coração, é minha mãezinha que mora em Aruanda perto de D. Paulina que pode lhe abraçar.

Posso não conhecer os pontos de demanda 
Posso não saber rezar
Não tenho tanta fé em mim
Mas tenho buscado a força, a força que D. Zefa disse que iria me dar. Saravá!

Busco o invisível e ganho crianças em casa
Escondem coisas, elas passam pelo banheiro, gostam de brincar
Rezo de novo querendo me aproximar delas
Será que Oxalá me escuta depois de tanto chorar?

Tenho ruindade dentro de mim como moeda
Mas não me troco
Sou ruim, mas também sou boa, penso no retorno
Que não seja por isso que eu não mereça um lugar a tua esquerda ocupar

Deveria me ver digna, mas não sei como assim me presentear
Me comparo 
Não tenho anel de formatura e nem um cargo importante
Quando deixarei de ser meu inferno? Quando isso vai acabar?

Mas ainda tenho muito o que ofertar
Tenho colo, sei me fazer contar 
Tenho cara fechada mas não é para assustar
Só me protejo do que não conheço e do que eu mesma posso me causar.

Se quiser amor e ouvir algum ponto, posso me sentar
Minha casa vai está aberta, é seguro
Nunca serei como as outras que admira
Mas quero me valorizar, se não me ver, também não vou enxergar.

segunda-feira, 25 de setembro de 2023

Você precisa saber

 A mãe precisa saber que não tenho tido vontade de morrer, que agora entendo uma coisa: sempre que quero seu abraço quero morrer, porque no final das contas tenho a consciência de que ela não está mais aqui e quero ir onde ela está e abraçar, qual o objetivo? Cessar minha dor naquele momento.

 Mas a mãe precisa saber que não quero de fato morrer, eu gosto de viver, eu gosto da vida, não concordo com a maioria das coisas, mas não quero ir embora, quero que minha dor se vá, é diferente. Querer seu abraço nesses momentos e querer morrer por saber que só assim é egoísta demais, pesado demais, cru demais.

 Ela sabe que ainda tenho que resolver uma porção de coisas aqui, sei também que minha existe é para resolver tantas pendências que me pergunto como darei conta, mas todos os dias eu sinto a falta da segurança do seu amor e afago (que egoísta que sou), quero morrer para que minha dor acabe, tenho tido com frequência que não sei viver e que não sou para vida.

 Como não sou se gosto de viver? Gosto de estar com outras pessoas, gosto de comer, conhecer outros locais, da sensação de quando se aprende algo novo ou algo que na minha infância não conseguia, que gosto de beijar na boca e dividir a vida com outra pessoa, que gosto do encantamento de uma amizade ou de um amor, de plantar feijão e milho, de trabalhar, de ser um bicho no mato que engano a todos com ideologias rasas e com senso comum.

 Sinto a falta do seu amor nos dias ruins, do seu afago, lembro dos seus conselhos de quando erro e lembro que realmente sentava e conversava comigo, brigava depois se eu errasse novamente, foi a pessoa que mais me deu segundas chances porque acreditava que mudaria, eu mudei, mão sou um monstro, mãe.

 A mãe precisa saber que quero seu abraço e voltar para vida, quero continuar aprendendo, quero a felicidade (não queria a tristeza mas não posso ignorar que sempre a terei), quero festas, abraços, amor. Será que eu consigo ter uma existência apenas lá com ela? Hoje me olho e penso: quanto egoísmo, você quer apenas o abraço dela para não sentir a dor, porque o abraço dela vem com amor, com segundas chances, com consideração, com casa. Ela merece isso? 

 Sou injusta, mãe.

 Mas preciso que saiba que queria tudo isso e que você provasse o gosto do sorvete, dos lugares, dos amores, que você se orgulhasse do que tento ser e me aconselhasse pelo que faço de ruim, que você não é apenas meu porto seguro, que sou teu porto seguro, que fui quando você precisou e que sempre seria. O amor que você me mostrou, um amor falho, com traumas, com erros, também transforma, o amor nem sempre será bonito. 

 Queria não ter medo, te busco para ter a força mas ainda não tenho, te busco e me busco, chego a ser ordinária comigo, mas não consigo nem resolver o que minha psicóloga pediu: do que você se perdoa? Eu não me perdoo, por que eu perdôo as pessoas e não a mim? Você diria que não sou uma pessoa ruim, você disse isso poucos dias antes de morrer, eu ainda consigo escutar sua voz.

 Eu não quero morrer, eu quero viver em paz comigo mesma, isso passar pelo amor e falta de mãe que sinto, falta de um porto seguro, que eu possa descansar, pelo meu egoísmo, pelo luto, eu não quero morrer, tenho ânsia de ser feliz, mesmo quando me faço o contrário. Você está feliz?


quarta-feira, 9 de agosto de 2023

quarta-feira, 14 de junho de 2023

A garota do 038

Esther dorme, sua respiração é forte, pesada e barulhenta.
Eu a olho.

Eu a amo, realmente a amo, nunca foi o que eu queria, ela seria exatamente o que eu precisava, eu a amo.

Seus olhos, sua boca, suas mãos pequenas e suas unhas curtas de roer, eu a amo

A forma como anda na rua e sorri quando ver um gato, ela ama cachorros mas com gatos é diferente, eu a amo.

Eu a odeio por amar tanto, ela me faz sentir valer a pena, tenho medo que vá embora, e justamente por me fazer sentir o medo de sua partida que a odeio as vezes, mas eu amo muito mais.

Sei quais são seus passos, sua forma de dançar, de segurar o copo de cerveja, o mesmo copo que fica com a marca do batom vermelho.

Tenho medo de perde, tenho medo de me perder mais do que já estou, e dormir todos os dias e sentir o cheiro gostoso do seu corpo, sentir o gosto bom dos seus fluidos não é o bastante, eu quero uma vida com ela. 

Ela me ensina todos os dias como é bom amar, como é necessário conversas difíceis, decisões cruéis, mexer nos calos e me olhar no espelho quando erro, não sou alguém de boa índole muitas vezes, mas eu tento ser.

O amor muda a gente, não apenas ele, mas as dificuldades, as escolhas, e quando ela me escolhe eu a chamo de louca, mas agradeço por isso. Eu a amo.

domingo, 21 de maio de 2023

Últimas noites do fim de julho

Fazia uns dias que a mãe não levantava mais sozinha, estava meia luz o quarto, minha avó dormiu na rede e eu estava deitada na cama ao lado da mãe.

 Olhei ela a minha esquerda bem magra, o couro e o osso, suas mãos pareciam bem mais alongadas e com veias bem amostra, ela costumava deixar a mão direita sobre a barriga e a outra esticada, eu gravava aquela cena.

- A senhora não tem medo de morrer?
- Não - falou olhando pras telhas - A gente aprende que tem o lugar bom e ruim, queria ir pro lado de Deus.
- Por tudo que passou eu acho que vai. Não seria justo passar por tudo isso e não ir pro céu. 
- Deus é quem sabe.
- Eu odeio deus, se ele existe eu o odeio, não é justo isso, se fosse comigo eu até entenderia mas com a senhora...
- Tu só conversa besteira
- Eu o odeio...
- Eu queria ficar mas se não é pra ser eu tenho que aceitar, né?! 
- Eu queria que fosse comigo. Por favor não me abandona
- Não é porque eu queria, minha bichinha, eu me preocupo como você vai ficar, não tem ninguém por você aqui, mas se Deus quis assim ele sabe.

 Organizamos muitas coisas naquela noite, choramos, rimos, queria que aquela noite tivesse durado pra sempre, e esse era meu problema, iria acabar, eu ia perder aquilo e muitas das conversas que tínhamos.

 Sinto falta de seus dedos longos no meu cabelo mesmo muito doente, de chorar junto e sorri junto, de pensar e viver o antes da doença, do planejar a vida e até nas brigas da família, queria ter a vida que tenho hoje com ela viva, para ela saber que já não estou tão só, pra partilhar o café e bolo, os almoços e jantas.