O estômago parece ficar suspenso entre os órgãos, o que é engraçado porque são todos tão apertadinhos, é como se algo inflasse ou até mesmo sumisse e só ficasse aquele pedaço de carne mais grosseira e elástica com uma alça que liga de imediato ao intestino, ele parece tremer, rodar, assustar e tudo isso com a força do pensamento, os olhos se enchem de lágrimas.
Às 6h senta na cama, com o corpo mais curvado, pernas pesadas demais e mãos apoiadas na borda da cama mantém os olhos fechados, a cabeça pesa, o estômago treme, a boca se mantém fechada como se entre os lábios tivesse uma cola criada durante a madrugada que dá a sensação de leve grude, a boca amarga e imagina o mau hálito, preciso escovar os dentes, pensa, só pensa mas sem reagir.
A ansiedade continua ali, ela é diretamente ligada com a frustração, existe também um pedido de socorro silencioso mas que não adianta verbalizar porque é algo que apenas ela pode resolver, como forma punitiva não se permite mudar o pensamento e fica pensando sobre o causo até chegar a uma conclusão, o analista questiona o motivo dela não reconhecer o que fez até aqui, tem a sensação que todos veem algo que não condiz com a realidade, são 6h15 e é muito cedo para síndrome da imposto atacar, pensa novamente.
Então ela senta para trabalhar, pensa em escrever mais salvo engano, demanda, agora continua com o gosto amargo na boca, os ombros estão pesados, a cabeça, sente frustração ao ver a casa, ainda bem que não é a minha, pensa aliviada, a minha falta tanta coisa, pensa com ar de rebatimento, preciso do meio termo. Foca nos ombros, foca no pescoço, a frustração da pancada na mão, do que não pode ser mudado, existem coisas tão irremediaveis, levanta e vai escovar os dentes, toma água com limão e própolis, senta, sente angústia de ter que trabalhar com a sensação de desespero, chora ao telefone, perde a paciência, aumenta a voz, bate a mão e machuca novamente.
Senta novamente na cama e põem a cabeça entre as mãos com apoio dos cotovelos na mesa, pensa no exercício que o terapeuta ensinou, respira 3x profundamente, a luz de notificação do Hangouts acende e sente frustração. Durante a terapia compreendeu que a frustração vem do que não está a seu alcance, a palavra seria impotência/incontrolável/insuficiente, existe uma palavra que se encaixa mais ainda, ela não recorda. Maudito seja.
Gabriela visualiza a parede como se houvesse uma câmera que o ângulo se afasta, volta da cama e senta na mesma posição, ombros curvados, pés no chão onde um está levemente virado, pernas pouco abertas e os braços apoiados nas coxas e as mãos soltas dentre elas, agora consegue sentir o estômago mexer, ele quer sair pela boca, é como se agora tudo estivesse tão rápido, tenta organizar os pensamentos para organizar as emoções, tem que racionazar rápido, tô assim e sei o motivo, mas por que dói? Ela faz o processo errado, invés de tentar acalmar ela tentar pensar, está errado.
10h07 e percebeu todos os comportamentos da frustração, da vontade de brigar, ela sentiu cansaço mental e físico, se comportou exatamente da mesma forma que antes, no fundo está contente de ser capaz de entender que não estava com raiva do trabalho mas de si, lembrou que dois anos antes que estava assim, é frustante não conseguir se mover, sou hipócrita, grita do quarto na esperança que algum vizinho a escute e concorde. Que puna.
Existe um sentimento que pune, é como se tivesse que passar por isso pois é alguém ruim, como pode aplicar nas pessoas o meio termo, perdoar e ter empatia quando não tem de si, existe um ponto na mente que é o sim e o não, escuro ou claro, medo ou coragem, como se a vida toda fosse baseada em extremos e não meio termos, não para si. Não é perdoado um erro.
Não tem lógica, levanta, sente o corpo pesado de desânimo, lembra que ainda não comeu nada e nem os remédios, engraçado se fosse meses atrás estaria comendo tudo e agora a comida é minha inimiga, ela nem tem culpa da guerra que faço, chora. Se coloca nua no chuveiro e deixa a água bater, não pode demorar pelo trabalho, se sente mais limpa mentalmente e sente fome. No corredor percebe que se está com fome é sinal que a ansiedade amenizou, para um momento e percebe que o estômago está normal, ainda sente no rosto algo estranho, sente que quer correr agora, que precisa correr, antes estava parada e morta e agora quer correr, a ansiedade lhe parece que foi redirecionada. A notificação do hangouts volta aparecer está mais calma.
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